Discernimento Espiritual #2
- André G. Figur
- 3 de dez. de 2018
- 7 min de leitura

Alma.
É na alma que residem nossas emoções e impressões que tiramos do mundo ao nosso redor. É ela quem vai dar a primeira definição se gostamos ou não de algo. É ela quem se ofende, ou se sente elogiada com algo. É ela quem definirá se o som que ouvimos é música, ou apenas barulho, se a comida que comemos é apenas comida ou a melhor comida que já comemos, é ela quem vai definir se a imagem diante de nossos olhos é apenas uma porção de rabiscos, ou se é uma obra de arte.
Mas este é apenas o primeiro nível de definições que nossa alma traz das coisas, ela não se contenta apenas em discernir se as sensações que o corpo, a carne, passa para ela, são gostosas ou ruins, mas ela relaciona as sensações às emoções, criando uma alta gama de reações, que vão imprimindo um relatório que vai sendo armazenado em nosso cérebro, e depois serão chamados apenas de “lembranças”.
Gosto da representação que já vi em certas animações a esse respeito, que imaginam o corpo como se fosse uma casca externa, como um robô, enquanto a alma está por dentro, analisando todas as informações que chegam e brinca com isso como um artista misturando cores numa tela, ou como cozinheiro misturando temperos numa panela, produzindo aquilo que chamamos depois de “impressão”, e depois viram “lembrança”.
Usando desta mesma representação que falamos no parágrafo anterior, vamos nomear este pequeno grande artista que habita dentro de nosso corpo de: EGO.
O EGO é uma personalidade que pode ser muito brilhante, ou muito estúpido, dependendo de como as sensações o influênciam. O verdadeiro problema dele é o quão influenciável ele é. Ele é volátil como as ondas do mar, não só como ondas mas também como o próprio nível do mar, que de acordo com a lua, avança ou recua dezenas de metros numa praia. Mas pior do que o subir e descer de nível pela influência da lua, ou fazer ondas medonhas de um instante para o outro influenciado pelo vento, é ser tão contaminável quanto “água”. Para contaminar nosso EGO, pouca coisa precisa-se, não há necessidade de um volume imenso de frustrações de uma única vez, na verdade ele apresenta mais resistência quando qualquer emoção vem concentrada, mas basta pequenas e ínfimas proporções de frustração aqui, alegrias ali, uma indignaçãozinha como cereja do bolo, e lá se foi o nosso dia, ou nossa semana, ou nossa vida pelo ralo.
Todo homem é dirigido pela sua alma, mais especificamente pelo seu EGO, num nível tão elevado que nós até pensamos que somos o próprio EGO. Mas não somos, nós mesmo somos espírito, POSSUÍMOS uma alma (EGO incluso), e habitamos em um corpo. Mas no homem natural, não regenerado pelo Espírito Santo, ele não tem a possibilidade de ser possuidor do seu EGO, é o seu EGO que o possui. E também não é porque nascemos de novo, porque recebemos o Espírito Santo habitando dentro de nós, que automaticamente nossa alma fica sujeita ao nosso espírito, o corpo fica mortificado, e reluzimos imagem perfeita de Cristo. Nada disso! Quando recebemos a nova natureza, recebemos a capacidade para sujeitar nosso ego e nossa carne, mas se não o fizermos, eles não estão sujeitos a nada.
Exemplificando, uma pessoa está triste, ou escondeu no âmago do seu ser uma tristeza, da qual nem lembra-se a nível consciente, embora ainda paire como uma sombra sobre ela. Ela vai a uma igreja que tem um forte louvor apelativo, ela não acha nada muito interessante no começo, na verdade queria passar o número de telefone do “tom” ao vocalista, que está a quilômetros de distância do “tom” da música, ela, a pessoa do nosso exemplo, teve a revelação, que o baterista aprendeu a tocar o instrumento musical, nas panelas da mãe dele, tem certeza absoluta, que o mesário é surdo, pois a música está num volume infernal.
Mas de repente tocam uma música que fala da sua alma triste a aflita, e de algum modo isso toca fundo nela, e ela entra em erupção de lágrimas, ela passa a próxima meia hora do louvor chorando, ajoelhada ou atirada no chão da igreja. Quando acaba o louvor e todos tem que se recompor, então ela levanta sentindo-se toneladas mais leve, a tristeza saiu, agora há espaço para alegria brotar, e um sentimento forte de que “tudo vai melhorar”, toma o ser dela.
Se você perguntar, ela vai dizer que aquilo foi algo espiritual, que ela pôde “sentir” seu espírito leve, e “se-sente” perdoada, e “sente” também que agora as coisas podem melhorar, que algo destravou em sua vida.
Esta mesma pessoa, senta-se para ouvir a pregação, que é toda motivacional, então a alma dela se exalta ainda mais, quando finalmente termina o culto, ela vai embora pronta para “seguir em frente com sua vida”, porque “sentiu” que algo “espiritual” em sua “alma” lhe deu a “confirmação” de que precisava. Então sai da igreja pronta para continuar pecando, agora, sem nem um peso na consciência.
No caminho para casa, ou mesmo durante a pregação, alguns minutos depois que ela deixou de se sentir mal, fosse por causa de consciência de pecado, porque chorou até se sentir melhor com relação às tristezas da alma, lhe aparecem pensamentos “brilhantes” na cabeça. Planos se formam com velocidade vertiginosa na cabeça, de repente parece que surgiram as soluções para todos os seus problemas, e ela atribui isso ao “ter ido a igreja e ter recebido aquele toque espiritual”, por ter tido “uma experiência espiritual no culto”.
Ela não acha!
Tem certeza!
E sua emoção confirma isso: De que é Deus falando na sua mente!
Mas seus pensamentos são todos de ordem egocêntrica: “Eu vou fazer isso ou aquilo, eu vou vender mais, eu vou comprar aquele carro, eu vou vender a casa, eu vou casar com aquela moça que senti no coração mais cedo, eu vou fazer aquela ou essa faculdade, eu vou ser pastor porque senti hoje no culto, eu… eu… eu...”
Sonhos pessoais nascem e morrem a cada culto desta forma, mais e mais pessoas se evolvem de forma cada vez mais profunda com “as coisas deste mundo” a cada culto.
É nesses momentos que nascem as ideias mais geniais de empreendedorismo que jamais serão executadas, é nesses momentos que os maiores romances nascem que jamais virarão um casamento sólido.
É nesses momentos que os melhores alunos de faculdade nascem, mas que jamais irão ser profissionais da área desejada.
É nesses momentos que nascem os mais incríveis “ministérios” e “ministros” evangélicos, mas que serão barrados na entrada do céu tendo que ouvir de Jesus um: “- Apartai-vos de mim, pois jamais os conheci...”
Se pensou, ao ler a frase mais acima “as pessoas saem do culto prontas para pecarem sem culpa”, que estou me referindo a pecados que são moral, e eticamente condenáveis como o adultério, assassinato, pornografia, masturbação, promiscuidade sexual, ou algo assim, não é a isso primeiramente que estou me referindo a “sair do culto pronto para pecar sem peso na consciência”, mas me refiro a outras coisas que as igrejas hoje simplesmente pararam de contar que é pecado, como por exemplo o simples: - Dirigir sua própria vida, à sua vontade.
Desta forma os cristãos têm sido governados por suas próprias almas, enganadas pelo seu próprio EGO.
Assim música vira “adoração” e o músico vira “adorador”, pregação do evangelho vira stand up comed, palestra motivacional ou ensino de método de multiplicação, pastor vira psicólogo, coaching, mentor, gerente, diretor, presidente, e até “apóstolo rei”, igreja vira clube, com direito a ficha de membros e carnê de mensalidade.
É assim que não só “pastores”, mas “cristãos”, são capazes de matar seus próprios filhos e cometer suicídio: Com uma alma doente, que pensa que tem que gerir tudo, que acha que é espirito, com um EGO que já enganou o verdadeiro “eu”, fazendo-o pensar que o próprio “EGO” é o “eu” de verdade.
O seu “eu” de verdade está em Cristo, não dentro do seu “EGO”.
Em suma, ser guiado pela sua alma, é igualmente, ser um homem “carnal”, pois ser carnal, não fala apenas de corpo, mas de qual atmosfera pertence essa natureza: Homem carnal = natureza terrena, homem espiritual = natureza celestial.
Eu poderia encerrar este texto por aqui, para então abrir o assunto “espírito”, mas gostaria, se me permite caro leitor, de acrescentar algumas considerações se você tiver paciência de ler.
Existe hoje um “pensamento” que diz que você tem que “se descobrir”, é algo que encontramos na matéria denominada de “autoconhecimento”. O homem natural pensa que quanto mais aprofundar seus pensamentos em sua natureza, ela lhe dirá o que ele realmente é, e então será feliz ao “se aceitar”. Mas é aqui que está a pegadinha: Nossa identidade está nas mãos do nosso criador, e não dentro de nós. Por isso eu disse e reafirmo a frase mais acima:
“O seu verdadeiro “eu” está em Cristo, não em seu “EGO”. E digo mais, este verdadeiro “eu” só pode ser acessado através do espírito, e não através da alma.
Mais uma coisa.
Não é novidade no meio cristão o entendimento que o “EGO”, ou a alma, nos atrapalha na caminhada cristã, mas ainda existe um erro pior do que ser guiado pelas emoções: negligenciar nossa alma.
Quando fiz escola de missões, bem me lembro que haviam professores que fomentavam a ideia de que alma tem que ser subjugada a um nível tal, que ela fique completamente inibida, praticamente ausente. O problema é que esse tipo de comportamento também é ser “almatico”, agora a pessoa apenas está se enganando achando que tomando uma postura enérgica, isso a deixe mais espiritual. Isso é infantilidade, criancice tal, como aquele comportamento que crianças têm ao imitar um adulto: É normalmente uma atuação mal feita que causa risos. E só, não tem o poder de fazê-la crescer, na verdade, quanto mais ela fizer isso, tende a se tornar um adulto insuportável.
Qual é o correto então? É evidente que o “equilíbrio”. Mas como ele se dá, e como ele funciona, disso falaremos noutro artigo. Até o próximo, que será “espírito”.



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